A festa litúrgica de São Padre Pio acontece em 23 de setembro, dia em que celebramos a sua morte terrena e o seu nascimento para a vida eterna com Cristo. Ele morreu em 1968, aos 81 anos, após uma vida de dedicação às almas por amor a Jesus Cristo.
O nome Miguel, vem da língua Hebraica. É um nome em forme de uma pergunta: 'Quem como Deus?' É, na verdade, uma 'pergunta afirmação', pois 'ninguém é como Deus'.
Nossa Senhora de Fátima ou, formalmente, Nossa Senhora do Rosário de Fátima, é uma das invocações atribuídas à Virgem Maria e que teve a sua origem nas aparições recebidas por três pastorinhos no lugar da Cova da Iria, em Fátima, Portugal.
MENSAGEM DO PAPA FRANCISCO PARA O DIA MUNDIAL DA PAZ 2020
A PAZ COMO CAMINHO DE ESPERANÇA:
DIÁLOGO, RECONCILIAÇÃO E CONVERSÃO ECOLÓGICA
1. A paz, caminho de esperança face aos obstáculos e
provações
A paz é um bem precioso, objeto da nossa esperança; por ela
aspira toda a humanidade. Depor esperança na paz é um comportamento humano que
alberga uma tal tensão existencial, que o momento presente, às vezes até
custoso, «pode ser vivido e aceite, se levar a uma meta e se pudermos estar
seguros dessa meta, se esta meta for tão grande que justifique a canseira do
caminho»[1].
Assim, a esperança é a virtude que nos coloca a caminho, dá asas para
continuar, mesmo quando os obstáculos parecem intransponíveis.
A nossa comunidade humana traz, na memória e na carne, os
sinais das guerras e conflitos que têm vindo a suceder-se, com crescente
capacidade destruidora, afetando especialmente os mais pobres e frágeis. Há
nações inteiras que não conseguem libertar-se das cadeias de exploração e
corrupção que alimentam ódios e violências. A muitos homens e mulheres,
crianças e idosos, ainda hoje se nega a dignidade, a integridade física, a
liberdade – incluindo a liberdade religiosa –, a solidariedade comunitária, a
esperança no futuro. Inúmeras vítimas inocentes carregam sobre si o tormento da
humilhação e da exclusão, do luto e da injustiça, se não mesmo os traumas
resultantes da opressão sistemática contra o seu povo e os seus entes queridos.
As terríveis provações dos conflitos civis e dos conflitos
internacionais, agravadas muitas vezes por violências desalmadas, marcam
prolongadamente o corpo e a alma da humanidade. Na realidade, toda a guerra se
revela um fratricídio que destrói o próprio projeto de fraternidade, inscrito
na vocação da família humana.
Sabemos que, muitas vezes, a guerra começa pelo facto de não
se suportar a diversidade do outro, que fomenta o desejo de posse e a vontade
de domínio. Nasce, no coração do homem, a partir do egoísmo e do orgulho, do
ódio que induz a destruir, a dar uma imagem negativa do outro, a excluí-lo e
cancelá-lo. A guerra nutre-se com a perversão das relações, com as ambições
hegemónicas, os abusos de poder, com o medo do outro e a diferença vista como
obstáculo; e simultaneamente alimenta tudo isso.
Como fiz notar durante a recente
viagem ao Japão, é paradoxal que «o nosso mundo viva a dicotomia perversa
de querer defender e garantir a estabilidade e a paz com base numa falsa
segurança sustentada por uma mentalidade de medo e desconfiança, que acaba por
envenenar as relações entre os povos e impedir a possibilidade de qualquer
diálogo. A paz e a estabilidade internacional são incompatíveis com qualquer
tentativa de as construir sobre o medo de mútua destruição ou sobre uma ameaça
de aniquilação total. São possíveis só a partir duma ética global de
solidariedade e cooperação ao serviço dum futuro modelado pela interdependência
e a corresponsabilidade na família humana inteira de hoje e de amanhã»[2].
Toda a situação de ameaça alimenta a desconfiança e a
retirada para dentro da própria condição. Desconfiança e medo aumentam a
fragilidade das relações e o risco de violência, num círculo vicioso que nunca
poderá levar a uma relação de paz. Neste sentido, a própria dissuasão nuclear
só pode criar uma segurança ilusória.
Por isso, não podemos pretender manter a estabilidade no
mundo através do medo da aniquilação, num equilíbrio muito instável, pendente
sobre o abismo nuclear e fechado dentro dos muros da indiferença, onde se tomam
decisões socioeconómicas que abrem a estrada para os dramas do descarte do
homem e da criação, em vez de nos guardarmos uns aos outros[3].
Então como construir um caminho de paz e mútuo reconhecimento? Como romper a
lógica morbosa da ameaça e do medo? Como quebrar a dinâmica de desconfiança
atualmente prevalecente?
Devemos procurar uma fraternidade real, baseada na origem
comum de Deus e vivida no diálogo e na confiança mútua. O desejo de paz está
profundamente inscrito no coração do homem e não devemos resignar-nos com nada
de menos.
2. A paz, caminho de escuta baseado na memória,
solidariedade e fraternidade
Os sobreviventes aos bombardeamentos atómicos de Hiroxima e
Nagasáqui – denominados os hibakusha – contam-se entre aqueles que,
hoje, mantêm viva a chama da consciência coletiva, testemunhando às sucessivas
gerações o horror daquilo que aconteceu em agosto de 1945 e os sofrimentos
indescritíveis que se seguiram até aos dias de hoje. Assim, o seu testemunho
aviva e preserva a memória das vítimas, para que a consciência humana se torne
cada vez mais forte contra toda a vontade de domínio e destruição. «Não podemos
permitir que as atuais e as novas gerações percam a memória do que aconteceu,
aquela memória que é garantia e estímulo para construir um futuro mais justo e
fraterno»[4].
Como eles, há muitos, em todas as partes do mundo, que
oferecem às gerações futuras o serviço imprescindível da memória, que deve ser
preservada não apenas para evitar que se voltem a cometer os mesmos erros ou se
reproponham os esquemas ilusórios do passado, mas também para que a memória,
fruto da experiência, constitua a raiz e sugira a vereda para as opções de paz
presentes e futuras.
Mais ainda, a memória é o horizonte da esperança: muitas
vezes, na escuridão das guerras e dos conflitos, a lembrança mesmo dum pequeno
gesto de solidariedade recebida pode inspirar opções corajosas e até heroicas,
pode colocar em movimento novas energias e reacender nova esperança nos
indivíduos e nas comunidades.
Abrir e traçar um caminho de paz é um desafio muito
complexo, pois os interesses em jogo, nas relações entre pessoas, comunidades e
nações, são múltiplos e contraditórios. É preciso, antes de mais nada, fazer
apelo à consciência moral e à vontade pessoal e política. Com efeito, a paz alcança-se
no mais fundo do coração humano, e a vontade política deve ser incessantemente
revigorada para abrir novos processos que reconciliem e unam pessoas e
comunidades.
O mundo não precisa de palavras vazias, mas de testemunhas
convictas, artesãos da paz abertos ao diálogo sem exclusões nem manipulações.
De facto, só se pode chegar verdadeiramente à paz quando houver um convicto
diálogo de homens e mulheres que buscam a verdade mais além das ideologias e
das diferentes opiniões. A paz é uma construção que «deve estar constantemente
a ser edificada»[5],
um caminho que percorremos juntos procurando sempre o bem comum e
comprometendo-nos a manter a palavra dada e a respeitar o direito. Na escuta
mútua, podem crescer também o conhecimento e a estima do outro, até ao ponto de
reconhecer no inimigo o rosto dum irmão.
Por conseguinte, o processo de paz é um empenho que se
prolonga no tempo. É um trabalho paciente de busca da verdade e da justiça, que
honra a memória das vítimas e abre, passo a passo, para uma esperança comum,
mais forte que a vingança. Num Estado de direito, a democracia pode ser um
paradigma significativo deste processo, se estiver baseada na justiça e no
compromisso de tutelar os direitos de cada um, especialmente se vulnerável ou
marginalizado, na busca contínua da verdade[6].
Trata-se duma construção social em contínua elaboração, para a qual cada um
presta responsavelmente a própria contribuição, a todos os níveis da comunidade
local, nacional e mundial.
Como assinalava o Papa São Paulo VI, «a dupla
aspiração – à igualdade e à participação – procura promover um tipo de
sociedade democrática. (…). Isto, de per si, já diz bem qual a importância de
uma educação para a vida em sociedade, em que, para além da informação sobre os
direitos de cada um, seja recordado também o seu necessário correlativo: o
reconhecimento dos deveres de cada um em relação aos outros. O sentido e a prática
do dever são, por sua vez, condicionados pelo domínio de si mesmo, pela
aceitação das responsabilidades e das limitações impostas ao exercício da
liberdade do indivíduo ou do grupo»[7].
Pelo contrário, a fratura entre os membros duma sociedade, o
aumento das desigualdades sociais e a recusa de empregar os meios para um
desenvolvimento humano integral colocam em perigo a prossecução do bem comum.
Inversamente, o trabalho paciente, baseado na força da palavra e da verdade,
pode despertar nas pessoas a capacidade de compaixão e solidariedade criativa.
Na nossa experiência cristã, fazemos constantemente memória
de Cristo, que deu a sua vida pela nossa reconciliação (cf. Rm 5,
6-11). A Igreja participa plenamente na busca duma ordem justa, continuando a
servir o bem comum e a alimentar a esperança da paz, através da transmissão dos
valores cristãos, do ensinamento moral e das obras sociais e educacionais.
3. A paz, caminho de reconciliação na comunhão fraterna
A Bíblia, particularmente através da palavra dos profetas,
chama as consciências e os povos à aliança de Deus com a humanidade. Trata-se
de abandonar o desejo de dominar os outros e aprender a olhar-se mutuamente
como pessoas, como filhos de Deus, como irmãos. O outro nunca há de ser
circunscrito àquilo que pôde ter dito ou feito, mas deve ser considerado pela
promessa que traz em si mesmo. Somente escolhendo a senda do respeito é que
será possível romper a espiral da vingança e empreender o caminho da esperança.
Guia-nos a passagem do Evangelho que reproduz o seguinte
diálogo entre Pedro e Jesus: «“Senhor, se o meu irmão me ofender, quantas vezes
lhe deverei perdoar? Até sete vezes?” Jesus respondeu: “Não te digo até sete
vezes, mas até setenta vezes sete”» (Mt 18, 21-22). Este caminho de
reconciliação convida-nos a encontrar no mais fundo do nosso coração a força do
perdão e a capacidade de nos reconhecermos como irmãos e irmãs. Aprender a
viver no perdão aumenta a nossa capacidade de nos tornarmos mulheres e homens
de paz.
O que é verdade em relação à paz na esfera social, é
verdadeiro também no campo político e económico, pois a questão da paz permeia
todas as dimensões da vida comunitária: nunca haverá paz verdadeira, se não
formos capazes de construir um sistema económico mais justo. Como
escreveu Bento
XVI, «a vitória sobre o subdesenvolvimento exige que se atue não só sobre a
melhoria das transações fundadas sobre o intercâmbio, nem apenas sobre as
transferências das estruturas assistenciais de natureza pública, mas sobretudo
sobre a progressiva abertura, em contexto mundial, para formas de atividade
económica caraterizadas por quotas de gratuidade e de comunhão»[8].
4. A paz, caminho de conversão ecológica
«Se às vezes uma má compreensão dos nossos princípios nos
levou a justificar o abuso da natureza, ou o domínio despótico do ser humano
sobre a criação, ou as guerras, a injustiça e a violência, nós, crentes,
podemos reconhecer que então fomos infiéis ao tesouro de sabedoria que devíamos
guardar»[9].
Vendo as consequências da nossa hostilidade contra os
outros, da falta de respeito pela casa comum e da exploração abusiva dos
recursos naturais – considerados como instrumentos úteis apenas para o lucro de
hoje, sem respeito pelas comunidades locais, pelo bem comum e pela natureza –,
precisamos duma conversão ecológica.
O Sínodo recente sobre a Amazónia impele-nos a dirigir, de
forma renovada, o apelo em prol duma relação pacífica entre as comunidades e a
terra, entre o presente e a memória, entre as experiências e as esperanças.
Este caminho de reconciliação inclui também escuta e
contemplação do mundo que nos foi dado por Deus, para fazermos dele a nossa
casa comum. De facto, os recursos naturais, as numerosas formas de vida e a
própria Terra foram-nos confiados para ser «cultivados e guardados» (cf. Gn 2,
15) também para as gerações futuras, com a participação responsável e diligente
de cada um. Além disso, temos necessidade duma mudança nas convicções e na
perspetiva, que nos abra mais ao encontro com o outro e à receção do dom da
criação, que reflete a beleza e a sabedoria do seu Artífice.
De modo particular brotam daqui motivações profundas e um
novo modo de habitar na casa comum, de convivermos uns e outros com as próprias
diversidades, de celebrar e respeitar a vida recebida e partilhada, de nos
preocuparmos com condições e modelos de sociedade que favoreçam o desabrochar e
a permanência da vida no futuro, de desenvolver o bem comum de toda a família
humana.
Por conseguinte a conversão ecológica, a que apelamos,
leva-nos a uma nova perspetiva sobre a vida, considerando a generosidade do
Criador que nos deu a Terra e nos chama à jubilosa sobriedade da partilha. Esta
conversão deve ser entendida de maneira integral, como uma transformação das
relações que mantemos com as nossas irmãs e irmãos, com os outros seres vivos,
com a criação na sua riquíssima variedade, com o Criador que é origem de toda a
vida. Para o cristão, uma tal conversão exige «deixar emergir, nas relações com
o mundo que o rodeia, todas as consequências do encontro com Jesus»[10].
O caminho da reconciliação requer paciência e confiança. Não
se obtém a paz, se não a esperamos.
Trata-se, antes de mais nada, de acreditar na possibilidade
da paz, de crer que o outro tem a mesma necessidade de paz que nós. Nisto,
pode-nos inspirar o amor de Deus por cada um de nós, amor libertador,
ilimitado, gratuito, incansável.
O medo é, frequentemente, fonte de conflito. Por isso, é
importante ir além dos nossos temores humanos, reconhecendo-nos filhos
necessitados diante d’Aquele que nos ama e espera por nós, como o Pai do filho
pródigo (cf. Lc 15, 11-24). A cultura do encontro entre irmãos e
irmãs rompe com a cultura da ameaça. Torna cada encontro uma possibilidade e um
dom do amor generoso de Deus. Faz-nos de guia para ultrapassarmos os limites
dos nossos horizontes estreitos, procurando sempre viver a fraternidade
universal, como filhos do único Pai celeste.
Para os discípulos de Cristo, este caminho é apoiado também
pelo sacramento da Reconciliação, concedido pelo Senhor para a remissão dos
pecados dos batizados. Este sacramento da Igreja, que renova as pessoas e as
comunidades, convida a manter o olhar fixo em Jesus, que reconciliou «todas as
coisas, pacificando pelo sangue da sua cruz, tanto as que estão na terra como
as que estão no céu» (Col 1, 20); e pede para depor toda a violência nos
pensamentos, nas palavras e nas obras quer para com o próximo quer para com a
criação.
A graça de Deus Pai oferece-se como amor sem condições.
Recebido o seu perdão, em Cristo, podemos colocar-nos a caminho para ir
oferecê-lo aos homens e mulheres do nosso tempo. Dia após dia, o Espírito Santo
sugere-nos atitudes e palavras para nos tornarmos artesãos de justiça e de paz.
Que o Deus da paz nos abençoe e venha em nossa ajuda.
Que Maria, Mãe do Príncipe da paz e Mãe de todos os povos da
terra, nos acompanhe e apoie, passo a passo, no caminho da reconciliação.
E que toda a pessoa que vem a este mundo possa conhecer uma
existência de paz e desenvolver plenamente a promessa de amor e vida que traz
em si.
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